terça-feira, 9 de setembro de 2008

A música voltou a ouvir-se no Peroficós. Dez anos depois das últimas comemorações as ruas da aldeia foram percorridas pela procissão do Santíssimo Sacramento. E como recordar é viver, recordamos alguns episódios associados ao Peroficós.

Festa no PeroficosO Peroficós é terra de passagem. Terra de passagem? – Valerá menos que as outras? – perguntará o leitor? Não. Claro que não. Mas fica a caminho da estação da CP da Cerdeira e isso diz quase tudo para quem conhece o concelho do Sabugal. No tempo em que o caminho-de-ferro tinha a sua importância (o petróleo era barata mas os carros eram poucos) o Peroficós era local de passagem obrigatório.
Recordo com emoção os tantos e tantos domingos à noite que por lá deixei a velhinha «Famel Zundapp» a caminho da estação da Cerdeira e do «Beira Alta» que me levaria até à Base da Ota e tantas e tantas sextas-feiras à tarde em que a minha fiel amiga me esperava para me trazer de volta a casa.
A Cerdeira e, em especial, o Peroficós ficam como marca de um tempo que já não volta mas que temos obrigação de não deixar morrer. Esse «Beira Alta» de domingo à noite que parava em todas as estações e apeadeiros até Lisboa era o comboio dos militares. Tinha uma locomotiva diesel que era mudada na Pampilhosa e dois tipos de carruagens: salão e compartimentos. E como não podia deixar de ser para a malta da Raia havia uma carruagem de compartimentos que ficava com os lugares marcados logo a partir da Cerdeira. Era a carruagem que levava no primeiro compartimento um serviço improvisado de bar. E a longa viagem de cerca de oito horas através da madrugada demorava menos a passar. Um dia o meu amigo Paulo Saraiva adormeceu. Passámos Santarém e acordei-o dizendo que era na próxima. Mas a próxima, nesse dia, foi o Setil (terra de ninguém) e o Paulo, meio estremunhado, sentindo o comboio a afrouxar, pegou na mochila, abriu a porta e saltou para a plataforma. Passados poucos segundos o sinal ficou verde e o maquinista arrancou. E ficámos todos a ver pelas janelas aquela farda azul-escuro que, parada no meio do cais, não percebia porque não tinha ninguém à volta. Chegou um pouco atrasado à base mas ainda hoje em conversas de amigos recordamos e gozamos com o episódio.

Anexa do Seixo do Côa e convivendo paredes-meias com outra anexa, a Redondida (da Cerdeira do Côa), o Peroficós voltou a celebrar a festa do Santíssimo Sacramento abrilhantada pela música da Banda de Pinhel.
E foi desculpados com o pretexto da santa festa que nos reunimos em casa de Joaquim dos Santos, homem bom que conhecemos desde sempre e que nos deixava guardar a motorizada no seu cabanal.
De hoje em um ano!
«A Cidade e as Terras», opinião de José Carlos Lages

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