terça-feira, 12 de agosto de 2008

Capeias arraianas voltam este mês às aldeias do concelho do Sabugal

A capeia arraiana é uma tradição secular que se realiza unicamente nas terras do Sabugal. Ano após ano, a festa repete-se e ganha admiradores
Durante este mês milhares de pessoas dirigem-se à zona fronteiriça do Sabugal, distrito da Guarda, atraídas pelas tradicionais touradas que se realizam nas aldeias do concelho, denominadas capeias arraianas. O desafio está lançado e qualquer morador de cada uma das povoações pode participar, na sua terra, na lide do touro com recurso ao forcão, "instrumento fundamental e que dá a verdadeira originalidade às touradas da raia do Sabugal", refere Adérito Tavares, natural de Aldeia do Bispo, no livro Capeia Arraiana. A tradição remota aos tempos em que os touros espanhóis invadiam terrenos agrícolas portugueses e aí causavam estragos, tendo nascido como um meio de defesa. "As touradas começaram há uns 300 anos com touros que vinham de Espanha e depois passou a tratar-se de uma brincadeira", explica José Romeu, 67 anos, que sempre acompanhou a festa e a considera "uma forma de atrair avós, filhos e netos". Perante o declínio da população no concelho, diz mesmo que "se não fossem as touradas já não haveria cá ninguém". O dia da capeia é sempre um dia de emoções, começando logo de manhã com o encerro dos touros, que percorrem toda a aldeia a pé e são conduzidos até ao local onde serão lidados. Já dentro da praça, o forcão entra em cena. Trata-se de uma estrutura de madeira, à base de carvalho e pinho e em forma de triângulo, com a qual homens e rapazes enfrentam o touro, enquanto os espectadores incitam e aplaudem. A madeira escolhida para a fazer o forcão tem que ter certas características e "os paus não podem estar muito secos porque, se tal acontecer, partem com facilidade" durante a lide, explicou à agência Lusa José Domingos, residente em Forcalhos. "Com o forcão lidamos o boi durante cinco a sete minutos. O objectivo é esperar o boi e ele marrar. Se ele não marrar, já é um fracasso", acrescentou. No interior do forcão os mais baixos deverão ficar à frente, segurando a galha onde o touro marra. Atrás ficarão os mais altos, no chamado rabicho, com a função de "conduzir o rumo do forcão", explica José Romeu. "Só pegam homens e rapazes embora, algumas vezes, uma ou outra mulher, com coragem, também lhe agarre", esclareceu José Domingos. As capeias são preparadas ao pormenor e os forcões, com mais de 300 quilos, são feitos anualmente pelos habitantes de cada aldeia. "Muitas terras onde não existiam capeias aqui na zona passaram a fazê-las pela forma como mobilizam as pessoas", salientou José Romeu.
Ao que tudo indica, a tradição está para durar e o calendário deste ano está já definido para o mês de Agosto: Aldeia do Bispo (11), Soito (12), Ozendo (13), Nave (14), Aldeia da Ponte (15), Alfaiates (17), Forcalhos/Vale de Espinho (18), Fóios (19), Vale da Éguas (20) e Aldeia Velha (25). Entretanto já se realizaram as capeias de Lageosa da Raia e Rebolosa (6) e Ruivos (9). No dia 16, realiza-se em Soito o festival denominado Oh Forcão - rapazes onde oito aldeias irão mostrar-se na esperança de serem reconhecidas como os melhores.
in publico, 10.08.08